Avançar para o conteúdo principal

Faço terapia a cerca de uns 10 anos, com momentos de pausa e retorno. Com cada terapeuta consigo descobrir coisas novas a respeito de mim. Estou em constante processo de autoconhecimento. Resolvi criar o blog para falar sobre as coisas que tenho descoberto em processo terapêutico e que ainda não consigo compartilhar diretamente com as pessoas envolvidas ou com os familiares que os conhecem. Então, vamos lá...

Vou começar dizendo um ponto que a minha psicóloga atual me fez enxergar que eu não tinha pensado a respeito. Minha avó projetou o luto dela em mim durante boa parte de minha vida. Perdi minha mãe quando tinha 5 anos e desde então minha avó ficou responsável por minha criação. Eu não lembro como ela era antes disso tudo, mas eu lembro de depois, ela era uma pessoa brava, amarga, por qualquer coisa se irritava, tinha resposta para tudo, era grossa, bruta. Sempre me comparou a minha mãe, dizia que eu não parecia com ela em nada, colocava minha mãe num pedestal, quase uma santa, que não cometia erros, que fazia tudo certo, que abdicava de tudo pelo outro, que era uma mulher pequena, com um corpinho lindo e super saudável.

Me pergunto, será se ela era isso tudo mesmo? E se era, porque? Porque abdicou de tantas coisas? Porque tentava ser super-heroína para todos? Como era a relação dela com esses pais? Será se ela era feliz assim? Perguntas que nunca terei respostas, então não me aprofundo, apenas jogo ao vento esses questionamentos.

Eu cresci a sombra dela. Eu não era eu, era alguém sendo forçada a ser minha mãe para agradar minha avó e receber todo afeto, carinho e atenção que enquanto criança eu precisava ter. Mas, não era suficiente... eu nunca estava a altura dela, até porque, eu nunca fui ela... 

Eu mencionei que sou psicóloga da abordagem psicanalítica? Pois é... todos precisamos de terapia, todos temos questões a serem resolvidas. Isso não atrapalha meu trabalho, cada descoberta, cada ressignificação, me ajuda a conduzir cada vez melhor com meus pacientes. 

Voltando ao raciocínio anterior, eu não podia ser eu e não podia fazer nada que eu queria porque sempre vinha uma critica, por consequência, a única forma deu dizer que o corpo era meu, que eu mandava em mim, que eu tinha minhas próprias vontades era através da comida. Eu me confortava com a comida. E eu comia muitas vezes escondida, porque qualquer coisa que eu me alimentasse na frente da minha avó era motivo para dizer que eu iria engordar e não era com essas palavras bonitas. 

Ainda tem outro ponto, eu nunca pude ou consegui falar sobre o que eu sentia, eu guardava para mim, primeiro que eu não queria dar trabalho, segundo que eu sempre era criticada. Não era acolhida, não era ensinada, não me direcionavam um outro caminho. Então, eu guardava até explodir sozinha ou não saber mais lidar com aqueles sentimentos dentro de mim.

Isso tudo ocorria na época que eu era criança/adolescente, mas até hoje eu luto em relação ao meu peso, pois vivo num constante efeito sanfona, com os momentos de sobrepeso e obesidade prevalecendo, além disso baixa autoestima, autoimagem deficiente. Meu corpo entendeu que o comer é uma forma de descarregar esses sentimentos e emoções que eu não podia ou não sabia nomear, agora o caminho é perceber quando estiver nesse movimento, nomear o que estou sentindo, porque estou sentindo e não agir por impulso. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Um desabafo sobre a luta contra a balança

É tão difícil se olhar no espelho e ver fisicamente no que me tornei. Além disso, me sentir incapaz de me controlar, de fazer alguma coisa por mim mesma. Ao mesmo tempo que almejo a mudança, eu não consigo ser a mudança. Do que quero me esconder? De quem quero me esconder? Porque não quero ser vista? Estive pensando sobre isso, o que quero esconder por trás de um corpo grande?  Talvez a minha vulnerabilidade, que eu não sou uma pessoa tão forte ou corajosa quanto eu pareço ser, que eu só queria ser cuidada, amada, abraçada, acolhida, ouvir uma vai ficar tudo bem, um estou aqui junto com você, vamos fazer isso juntos. Lembro que quando criança eu evitava ao máximo demonstrar minhas emoções negativas, eu engolia os nós que eu sentia na garganta, porque não queria parecer fraca ou ser recriminada por simplesmente expressar o que estava sentindo.  Tenho percebido que não sei lidar com minhas emoções, independentes de positivas ou negativas, mas principalmente as últimas, eu tento ...